Passava pela entrada do 221B quando ouvi Sherlock tocando seu violino, era agradável aos ouvidos, ele só tocava assim quando estava bem ou quando encerrava um caso que ele considerava “inteligente”. subi as escadas devagar, não queria que me visse chegando e parasse de tocar, chegando ao topo da escadaria, não bati na porta, apenas me encostei na parede e o escutei tocar, a melodia era simples e as notas saiam juntas com uma sensação de paz que só ele conseguia me fazer sentir. Essa sensação é um tanto nostálgica.
–John..- Ele fez uma breve pausa. – É mais agradável de ouvir daqui de dentro.
E com apenas essas palavras me convidou a entrar, sentei na poltrona e o fiquei ouvindo-o tocar, eu tenho que admitir que ele é realmente belo, sua postura ao tocar é impecável, sem esforço nem força ele doma o instrumento, fazendo tocar um belo som, suas grandes e habilidosas mãos entram em sincronia com o violino que comparado a ele se torna tão pequeno. “Eu poderia o escutar tocando para sempre.”
–Poderia meu caro Watson..Basta voltar para Baker Street. – Disse Holmes num sussurro abafado.
“Será que pensei alto demais?”
– Por mais que quisesse, não poderia, agora sou um homem casado, não seria certo deixar a esposa e morar com o amigo. – Respondi.
O detetive não me parecia bem, ele não era o mesmo de sempre, o Holmes que passou anos ao meu lado nunca diria isso, nunca seria tão “Sentimental” . Sorrio. É até estranho colocar o nome Sherlock Holmes e a palavra sentimental na mesma frase, por que se havia uma coisa que Sherlock Holmes não era, essa coisa seria ser sentimental, ele parecia uma máquina, motivo pelo qual não acreditei na hora em que me beijou, por que o beijo é nada mais que uma enorme demonstração de amor,carinho,afeto e etc.. por outra pessoa, como poderia Holmes sentir tudo isso?
–Você deve saber que não o chamei aqui só para que me escutasse tocar, então irei direto ao ponto, quero que venha comigo, resolver um caso.
–Achei que Sherlock Holmes não precisasse de ajuda de alguém com um cérebro tão “simples”.
–Nem preciso dizer que você fez aspas com os dedos na intenção de me fazer pensar que seu cérebro não é tão simples certo. Isso só o torna mais “simples” meu caro John, não percebe? Tão comum. – Ele sorriu e deitou-se no sofá. – Mas é exatamente por isso que preciso de você para este caso, seus atos comuns e previsíveis e seu pensamento simplório são cruciais para desvendar este mistério, isso foi o que pensei quando o Lestrade me passou as informações do crime, por isso John Watson, você será a falta de inteligência e simplicidade mental que não tenho, você será meu cérebro reserva.
Esse homem conseguia me irritar de uma maneira incrível, era só começar a falar e minha raiva começava a crescer, esse era o dom especial que Holmes tinha, muitas vezes eu sentia vontade de enforca-lo.
–É assim que você pede minha ajuda? Me chamando de burro?.
–Eu não o chamei de burro, afinal, não quero desonrar uma subespécie tão nobre. –Ele começou a gargalhar.
Notando minha considerável raiva, o sorriso em seu rosto desaparece e ele volta a raciocinar, fechando os olhos ele continua.
–Bem, como você irá comigo, tem coisas que você precisa saber. Não sobre o caso, pois preciso que você não entenda nada para que eu entenda algo, mas, sim sobre os cuidados que você precisará ter, não estamos lidando com um simples criminoso.
–Nunca é só um simples criminoso Sherlock. – O interrompo.
Ele me lança um olhar. Sim. O olhar que quer dizer que esse criminoso é pior do que qualquer outro que já pegamos ou ao menos tentamos pegar.
–Os outros que pegamos, eram inteligentes e calculistas, mas, tinham certa hesitação na hora de tirar a vida de alguém, esse novo caso John, esse novo criminoso...- Ele me encara por alguns segundos. – Ele não hesita. Segundo o Lestrade ele já matou mais de 15 pessoas em menos de um mês, tirar a sua vida ou a minha para ele seria como beber mais um copo d’água, por isso que preciso que tome cuidado, o que vamos fazer é descobrir a ligação entre as vitimas...- Ele parece voltar a pensar. –Precisa ter alguma ligação, ninguém mata tantas pessoas sem ter um motivo...Será? –Num salto ele levanta do sofá e pega meu telefone e digita uma mensagem apressada. Pega seu cachecol e sobretudo e sai pela porta, sem ao menos me dizer para onde vai, e o que devo fazer.
*........*
–Por que não dorme aqui hoje? – Disse Holmes.
“Eu só posso estar ouvindo coisas.. Sherlock Holmes, O reservado, me convidando para dormi em Baker Street, sempre achei que ele não dormisse.”
– Quem é você? E o que fez com o Holmes?
–Eu sou um monstro!- Ele tenta sem sucesso fazer a voz de um monstro.
Holmes salta do sofá e avança para cima de mim. Caímos no chão. Ele está deitado encima de mim. Posso sentir todo seu corpo cobrindo o meu, todo seu calor. Ambos sorrimos. Foi um tanto inesperado, diria.
O moreno começava a se levantar. “Eu não quero que ele saia, quero continuar assim, sentir seu calor...” . Antes que conseguisse se levantar , envolvi seu corpo com meus braços e o segurei. Nós não precisamos dizer nada, ele pousa sua cabeça em meu peito e ficamos parados, sentindo o calor um do outro. Meu rosto fica vermelho. “De quem é esse coração? Será o meu?.
–É o meu John – Ele sorri suavemente.
Estava acelerado, batia tão rápido, eu conseguia senti-lo perfeitamente, cada batida só aumentava minha vontade de não largá-lo. Ele levanta a cabeça e começa a me encarar. Aqueles belos olhos azuis, meio verdes, de vez em quando cinzas, aquele homem era uma aquarela, uma linda aquarela. Desvio o olhar, tenho medo de olha-lo nos olhos, meu coração bate na mesma velocidade que o seu, estou nervoso, tenho medo de não conseguir me controlar, tenho medo do que posso fazer se sucumbir a essa deliciosa tentação que era Sherlock Holmes.
–Não precisa ficar tão nervoso John.
–Eu não estou nervoso.
–John..- Ele dá uma pequena pausa sorrindo. – Já tivemos essa conversa antes, você bem sabe que não consegue me enganar, ainda mais quando sinto todo seu corpo, por que tentar?
–Orgulho?- Mais uma vez minha resposta sai como uma pergunta.
–Orgulho...- Ele pensa um pouco – Fazemos assim, você ignora seu orgulho e olha nos meus olhos, simples.
–Como se fosse tão sim...- Antes que pudesse completar a frase, ele segura meu rosto fazendo-me olhar nos seus olhos.
Muito perto. Senti sua respiração descompassada como a minha. Seus lábios tocaram os meus os meus mais uma vez, era a mesma sensação de antes, aquele toque frio, mas que é suficiente para me tirar do ar, suas mãos já estão em minha nuca, o abraço com mais vontade, cortando qualquer espaço que havia entre nossos corpos. “Eu não posso mais soltá-lo”.
–Quero que seja só meu.
– Se esse é seu desejo, eu o realizarei.- Ele sorria.
*Voltando a realidade*
Meu corpo está completamente suado, um calor estranho toma meu corpo. “Um sonho?”. Olho ao redor, estou em minha casa, em minha cama, e Mary dorme ao meu lado. “Não acredito nisso! Não pode ser.. Eu não posso ter tido esse tipo de sonho com Sherlock Holmes, não..não...não..”. Meu coração está acelerado, e sinto minha box tentando conter o volume que estava lá. “Não acredito que fiquei excitado por ter sonhado com Sherlock Holmes..Aaah John..O que deu em você?”.
Meus pensamentos estavam todos bagunçados, era muita coisa de uma vez, lembrava do sonho, lembrava do seu beijo, lembrava da sensação de seus dedos frios entrando em contato com a pele de minha barriga.
“Eu com certeza não gosto de Sherlock Holmes!”
Levanto de vez e vou em direção ao banheiro, debaixo do chuveiro começo a pensar seriamente sobre tudo que acontecera esses dias, e as coisas estranhas que venho sentindo desde que meus lábios encontraram os do detetive, em momento algum consigo esquecer a sensação, parece algo que ficou empreguinado em mim, colado em meus pensamentos.
Meu celular vibra e sou retirado de meus pensamentos impuros e homoafetivos.
É uma mensagem dele, mesmo sem o nome, eu reconheceria o numero de Sherlock Holmes. Um sorriso estranho se formava em meu rosto.
“Você precisa pegar a Mary e sair daí agora, vocês correm um grande perigo, Lestrade já está indo para sua casa com algumas viaturas, te explico tudo depois.
S.H.”
Desligo o chuveiro, e ainda de toalha saio do banheiro, em direção ao quarto onde está a Mary e minha arma, se eu ao menos conseguir pegá-la já ficarei mais seguro.
Meu celular toca em sinal de uma segunda mensagem.
“John...Tome cuidado.
S.H.”
A preocupação dele era evidente, mas eu estava tenso demais para responder a mensagem. Chegando no quarto, uma sombra salta em minha direção, sinto uma forte pancada na cabeça e antes que desmaiasse o vi levando a Mary.
–Mary!! – Um grito abafado e rouco sai de minha boca.
Já era tarde demais, ele já se afastava e meu corpo ainda sem força continuava no chão, ouvi as sirenes e senti meu sangue escorrendo. Apaguei.
–John! John! – Sentia mãos frias tocarem meu rosto. –Vamos John! Precisamos fazer alguma coisa! Acorde.
–Humm? O que aconteceu? – Me levantei com certa dificuldade. – Minha cabeça dói, dói muito. – Coloquei a mão na cabeça e senti o curativo.
–Ele levou a Mary, John!.
–Sherlock!! – Ouvi Lestrade o repreendendo.
–Ele precisa saber, só assim ele pode tirar essa cara de idiota e me ajudar a fazer alguma coisa. – Sussurrava o detetive num tom razoavelmente alto.
–Deixe o Anderson cuidar dele e vamos atrás desse homem, não podemos perder mais tempo. – Reclamava o inspetor.
–Eu jamais deixaria o John nas mãos desse incompetente, olhe para o John, se ficar com o Anderson seu QI será reduzido a zero.
– Ei!! – Reclamou Anderson do outro canto da sala.
–Lembrem que eu ainda estou aqui.- Falei. Todos me olharam.
–Você lembra o que aconteceu? – Perguntou o inspetor. – Você chegou a vê-lo?
Fiz que não com a cabeça. Tentei me recordar do que acontecera mas nada vinha em minha mente. Me recordava de sair da clinica a noite, era a única coisa da qual me lembrava.
–Que dia é hoje? – perguntei.
–15 de novembro – Respondeu Holmes.
Não pode ser, ontem era 8, como pode hoje ser 15?
–Não pode ser...- Murmurei.
–O que houve? Lembrou de algo? – Perguntou ansiosamente o inspetor.
–Eu não me recordo de nada que aconteceu nos últimos 7 dias.
Todos me olhavam quando o celular do inspetor tocou, depois de algum segundo ele nos olhou e parecia que todos já sabiam o que tinha ocorrido.
–Mais um assassinato, precisamos ir logo se quisermos achar alguma coisa.
Todos começavam a sair numa correria que já me era familiar.
–John, você vem? – Perguntou o detetive.
–Claro! – Estava já em pé quando pude ver um pequeno sorriso nos lábios de Holmes.
–Você vai assim? – Perguntou.
Ao olhar para baixo, pude perceber que só estava de toalha.”Por que raios eu estava de toalha?”. Meu rosto ficou vermelho.
–Tem umas roupas suas em meu guarda-roupas, não demore, chamarei um taxi e ficarei esperando.
Holmes desceu e eu fui em direção a seu quarto. Eu não me recordava da ultima vez que tinha entrado lá, afinal, era o canto particular de Sherlock Holmes, ele não me deixava entrar lá, só quando era muito necessário. Ao tocar na maçaneta hesitei por um segundo.”O que será que tem aqui?”.
Entrei.
O lugar era impecavelmente arrumado, não me surpreendia, era o quarto do grande Holmes, me surpreenderia se fosse uma bagunça. Abri a primeira gaveta e lá havia muitos papeis, cada qual em uma pasta nomeada. Na segunda era suas cuecas. Meu rosto cora. Sou tomado por uma enorme vontade de sentir a cueca do Holmes. “Não seja doente John! Não se toca nas cuecas de seu melhor amigo, você com certeza não deve fazer isso”. Me pego já com uma cueca em mãos e a levando para perto do rosto. “Apenas uma cheiradinha não faz mal né”. Mesmo limpas, elas tem o cheiro dele, é suave e se mistura com o cheiro do sabão que a Srª Hudson usa, é um cheiro ótimo, me deixa tranquilo e faz meu corpo ficar quente.
Ouço passos subindo as escadas e desesperadamente jogo a cueca dentro da gaveta e a fecho, indo rapidamente em direção a terceira e ultima, onde pego a primeira roupa que vejo e logo levanto na tentativa de disfarçar.
–Tinha medo que não achasse. – Ele se aproxima e abre o guarda roupas e me entrega as roupas. – Você ia mesmo usar minhas roupas?
Olho para minha mão e percebo que as peças que seguro, o pertencem. Ela pega da minha mão e as guarda no mesmo local, quando já saía do quarto, ele aproxima seu rosto do meu.
–Você realmente não lembra de nada?- Ele sussurra. Seu hálito quente ao entrar em contato com minha pele, me faz arrepiar.
Só faço que não com a cabeça de modo nervoso e ele sai.
“O que foi isso? Que sensação é essa?”
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