Eu não
suportaria vê-la beijando o Scott. “Desculpe
Scott, não pude suportar mais. não poderei cumprir nossa promessa”. Ele me
lançou um olhar assustado mas logo sorriu, como se dissesse “Esta tudo bem”.
A Karine me
parecia bastante satisfeita, estava com um sorriso estampado no rosto e parecia nem se esforçar para esconder.
-Como eu sou uma pessoa muito boa, te
deixarei escolher a cor que vamos usar no nosso casamento.- Ela falava com
o Scott, meu sangue fervia em raiva. “essa
mulher é a pior”. Achei que o Scott não fosse responder a provocação dela,
mas, para minha surpresa ele respondeu.
-Hmmmm...Sempre gostei de preto, é uma bela
cor, mas o John fica muito sexy de vermelho..então eu diria vermelho com certeza.-
Ele piscou pra mim.
Lembrei-me
que na nossa primeira noite juntos, na primeira vez que nós... eu usava uma Box
vermelha e lembro que ao acordarmos a primeira coisa que ele falou era que eu
ficava muito bem de vermelho. “Até nessas
horas esse homem consegue ser um completo pervertido... E o que há com ele? Como
consegue ficar tão calmo?” . O que mais me intrigava é que ele puxava
assunto com ela, parecia querer que ela permanecesse distraída, e foi ai que
escutei um barulho, depois outro mais perto, até ver as paredes que estavam
atrás do Scott começarem rachar. “Vai
cair encima dele” . Eu tinha que fazer algo, elas estavam cada vez mais
rachadas.
“Tenho que fazer alguma coisa!”
“Tenho que fazer alguma coisa!”
“Tenho que fazer alguma coisa!”
“Tenho que fazer alguma coisa!”
Não tinha
muito tempo para pensar, eu só sabia que não poderia deixar aquilo cair nele.
Eu não tinha mais tempo...
-SCOTT!!!- Gritei enquanto corria com a
cadeira ainda amarrada ao meu corpo. “Sorte
que minhas pernas estavam livres”. Bati com força nas costas da cadeira do
Scott o jogando pra frente.
“Eu não suportaria perdê-lo de novo”
“de novo?”
“O que?”
“O que está acontecendo?”
Abro os
olhos, não estou naquele lugar, não mais, estou parado em frente a um enorme
portão, na minha frente tem um garotinho...”Quem
é este garotinho?”. Vejo o Justino aparecer. “Noooooossa!! Ele está beeem mais novo.”
-Como foi na escola John?- Ele falou,
sorrindo e abrindo o portão para o garotinho.
-Foi divertido!- O garotinho era bastante
sorridente. Ele deu um abraço no Justino e entrou correndo. – Scott! Scott!- Chamava ele por todo
lugar.
Foi no
momento em que vi outro garotinho sentado no banco do jardim, ele chorava,
estava com o braço machucado, estava sozinho, mas ao ouvir o chamado do garoto
que parecia ser “eu” mais novo, ele enxugou as lágrimas e em seu rosto apareceu
um grande sorriso, ao se aproximar do garotinho que tanto o procurava, ele o
abraçou enquanto tentava esconder o machucado, mas não funcionou, o Johnzinho
viu e praticamente o arrastou para dentro de casa, onde fez um curativo mal
feito, mas ele se esforçou, quando terminou o curativo ele levantou e deu um
beijo na cabeça do Scottinho que ficou vermelho instantaneamente, aproveitando
o momento, Scottinho segurou o rosto do Johnzinho e o beijou, surpresos ambos
ficaram vermelhos, mas ao terminar o beijo, sorriram.
-Promete que vai ficar comigo pra sempre?- Falou
o moreninho.
-Prometo- Respondeu o ruivinho, enquanto
pegava seu dedo mindinho e unia com o de seu amigo, e assim selaram uma
promessa.
Pensando
bem, era como se mesmo novos eles já tivessem noção de seus sentimentos.
”Eles não...Nós” .
Isso
provavelmente foi uma parte de minhas lembranças, aquelas que por conta do acidente
vim a esquecer. Sorri. Meus sentimentos por ele sempre foram verdadeiros e
singelos. Eu não me interessava por nada que ele tinha, ou que pudesse
futuramente ter, eu me interessava pelo que ele era.
Tudo fica
escuro. Não enxergo mais nada.
Não estou
assustado, lembrar disso me fez bem, ainda sorrio, por algum motivo eu não acho
estranho vagar pelas minhas lembranças, pois eu lembro que me sacrifiquei para
salvar aquele que sempre amei, estou bem em morrer assim.
-Oooh sim..Eu com certeza não me importaria
de morrer por ele, seria uma coisa boa, pois eu teria certeza de que ele
estaria vivo e bem, finalmente livre daquela família.- Sussurrei para o
nada. – Sabe..Eu realmente amo o Scott, e
esse sentimento é o que há de mais puro em mim...em nós.
Já fechava
os olhos, me entregaria a aquela sensação de paz, me entregaria de vez ao
destino, aquilo era bom, sem peso, sem arrependimento, todos temem a morte, mas
no final...ela é agradável.
“-Promete que vai ficar comigo pra sempre?.
-Prometo.”
Escutei
nossas falas, meus olhos se abriram, e a sensação de calma passou, agora eu
estava com medo, a promessa estava lá o tempo todo, eu precisava cumpri-la,
seria muito egoísta se eu apenas me entregasse de vez. Imagens do Scott
começaram a passar pela minha cabeça. Todas de uma vez. Nossos momentos juntos,
nossas lágrimas, seu sorriso, seu abraço, seu toque.. tudo num turbilhão que
acelerava cada vez mais meu coração. Eu começava a me desesperar.
“Como
vou sair daqui?”
Parecia que
quanto mais eu tentava lutar contra isso, mas aquilo me tomava, cada vez sentia
menos meu corpo, e lembranças ruins começavam a parecer em minha mente.
Lembranças que eu não sabia que tinha.
-Eu não gosto de você- Dizia o Scott,
parado de frente pra mim. Mas ele não olhava nos meus olhos, ele olhava nos
olhos do John de 15 anos que estava ali, parado de frente pra ele, o John que
começava a chorar ao ouvir aquilo. –Eu
não gosto de você, nunca gostei, meu interesse sempre foi o seu dinheiro, mas
agora não preciso mais de você.- Ele deu as costas para mim e se foi.
Tento
segurá-lo, mas eu o atravesso, sigo o Scott até dentro da casa. Deixo-me
chorando sozinho..no jardim.
-Muito bem Scott – Vejo meu pai
acariciando sua cabeça. O Scott está chorando muito. –Vamos, vá pra casa, não quero que ele o veja chorando, não quero que
ele descubra que você mentiu pra ele.
Corro até o
John e o agarro pelos ombros, mesmo sabendo que ele não pode me escutar eu
grito, grito, grito. A mesma coisa.
“Ele te ama!”
“Ele te ama!”
“Ele te ama!”
Tudo começa
a desaparecer novamente, e é quando vejo o Scott se afastando, cada vez mais
longe, o seu sorriso vem novamente a minha mente mas logo é substituído pela
cena dele se afastando. Agora eu choro e noto que meu corpo está começando a
desaparecer.
“Não quero abandoná-lo”
Meu nome é
John e eu estou morrendo.
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